“Eles Estão no Governo”, Afirma Presidente Salvadorenho, sobre corrupção no “Brasil .”
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, fez declarações contundentes sobre a situação da segurança pública no Brasil e em outros países latino-americanos. Para o líder salvadorenho, que transformou seu país de um dos mais violentos do mundo em um dos mais seguros do hemisfério, a explicação para a persistência do crime organizado em nações como o Brasil é simples e preocupante: infiltração criminosa nas estruturas governamentais. Vamos entender os argumentos de Bukele e analisar essa perspectiva controversa sobre segurança pública na América Latina.
A Transformação de El Salvador: De País Mais Violento a Mais Seguro
Antes de entrarmos nas críticas ao Brasil, é importante contextualizar a experiência de El Salvador sob a gestão de Bukele.
Há poucos anos, El Salvador enfrentava uma das taxas de homicídio mais altas do planeta. As gangues MS-13 e Barrio 18 controlavam vastos territórios, ditavam regras em comunidades inteiras e desafiavam abertamente a autoridade estatal.
A Estratégia de Bukele:
Desde que assumiu a presidência, Bukele implementou medidas controversas, mas eficazes do ponto de vista dos índices de criminalidade:
- Regime de Exceção: Suspensão temporária de algumas garantias constitucionais para combater gangues
- Prisões em Massa: Mais de 75 mil pessoas foram detidas em operações contra facções criminosas
- Megapresídios: Construção de prisões de segurança máxima com condições extremamente rígidas
- Presença Militar: Ocupação de territórios anteriormente controlados por gangues
- Resultados Numéricos: A taxa de homicídios caiu drasticamente, de mais de 100 para menos de 3 por 100 mil habitantes
Esses métodos geraram críticas de organizações de direitos humanos, mas conquistaram forte apoio popular interno, com Bukele mantendo índices de aprovação superiores a 90% em seu país.
“O Estado É Sempre Mais Forte”: O Argumento Central de Bukele
A premissa fundamental do presidente salvadorenho é clara e direta: nenhum governo é estruturalmente incapaz de derrotar o crime organizado.
Bukele invoca o conceito do “Leviatã” – referência à obra do filósofo Thomas Hobbes, que descreve o Estado como uma entidade suprema capaz de manter a ordem social através do monopólio legítimo da força.
A Lógica do Argumento:
- Recursos Superiores: O Estado possui orçamentos, equipamentos e contingentes muito maiores que qualquer organização criminosa
- Legitimidade Legal: O governo tem respaldo jurídico e institucional para agir contra criminosos
- Capacidade de Mobilização: Pode coordenar forças policiais, militares e judiciárias simultaneamente
- Apoio Internacional: Estados podem solicitar cooperação de outros países no combate ao crime
Para Bukele, se um governo não consegue controlar seu próprio território, não é por falta de capacidade técnica ou recursos – é por falta de vontade política ou, pior, por cumplicidade.
O Brasil Como Exemplo de Inação Estatal
Bukele não poupou o Brasil em suas observações, usando o país como exemplo de uma nação que possui todos os recursos necessários para vencer o crime organizado, mas não o faz.
As Comparações de Bukele:
- Tamanho das Organizações: Bukele reconhece que facções como PCC e Comando Vermelho são muito maiores que as gangues salvadorenhas
- Poder Estatal Desproporcional: Mas também destaca que o Estado brasileiro é incomparavelmente mais forte e rico que essas organizações
- Paradoxo do Controle Territorial: Questiona como é possível que gangues controlem bairros, favelas e até cidades inteiras enquanto o governo assiste
Desmentindo Justificativas Geográficas
O presidente salvadorenho foi direto ao refutar argumentos comuns que justificam a dificuldade em combater o crime no Brasil.
A Questão da Extensão Territorial:
Muitos defendem que o tamanho continental do Brasil dificulta o controle estatal efetivo. Bukele discorda frontalmente dessa explicação.
Comparação com o Canadá:
Bukele cita o Canadá, país com território extenso, incluindo áreas de tundra praticamente inacessíveis, florestas densas e regiões remotas. Ainda assim, não existem territórios canadenses controlados por organizações criminosas.
“O Canadá tem territórios impenetráveis que não se pode atravessar, tundra e tudo mais, e não há ninguém que controle um pedacinho.”
Índia e China:
Ambos os países possuem:
- Populações superiores a 1 bilhão de habitantes
- Territórios extensos e diversos geograficamente
- Regiões montanhosas, desérticas e florestais
- Desafios socioeconômicos significativos
Mesmo assim, não enfrentam situações onde facções criminosas estabelecem domínio territorial comparável ao que ocorre no Brasil.
O Argumento da Floresta Amazônica:
Bukele também questiona a justificativa de que a Amazônia dificulta o controle estatal. Sua perspectiva é que outros países com geografias igualmente desafiadoras conseguem manter a soberania sobre todo seu território.
O Rio de Janeiro: Cartão Postal Tomado pelo Crime
A situação do Rio de Janeiro exemplifica perfeitamente o ponto levantado por Bukele.
A cidade maravilhosa, conhecida mundialmente por suas belezas naturais e culturais, convive há décadas com o domínio de facções criminosas sobre vastas áreas urbanas.
A Realidade Carioca:
- Territórios Divididos: Diferentes facções controlam comunidades específicas, estabelecendo “fronteiras” invisíveis, mas muito reais
- Toque de Recolher Informal: Moradores de favelas frequentemente vivem sob regras impostas por traficantes, não pelo Estado
- Economia Paralela: Bilhões de reais circulam anualmente nas atividades ilegais, financiando armamento pesado
- Confrontos Constantes: Tiroteios são parte da rotina, afetando escolas, hospitais e o transporte público
- Serviços Básicos Comprometidos: Energia elétrica, água, internet – tudo passa pelo crivo das facções em territórios dominados
O Paradoxo:
Como uma cidade que recebe milhões de turistas, sedia grandes eventos internacionais e possui uma das polícias mais bem equipadas do país pode ter áreas completamente fora do controle estatal?
Para Bukele, a resposta não está na capacidade operacional, mas na vontade política de realmente enfrentar o problema.
A Acusação Mais Grave: Criminosos no Governo
A declaração mais polêmica de Bukele é sua conclusão sobre por que o crime organizado prospera em países latino-americanos.
“Como é possível que uma organização criminosa possa se apropriar de um território inteiro e o governo não possa tirá-los de lá? Porque eles estão no governo, por isso.”
O Que Isso Significa?
Bukele sugere que a persistência do crime organizado não é resultado de incompetência, mas de infiltração e corrupção sistemáticas:
- Políticos Financiados: Campanhas eleitorais que recebem dinheiro do crime organizado
- Policiais Corrompidos: Agentes que protegem criminosos em vez de combatê-los
- Juízes Comprados: Decisões judiciais que favorecem organizações criminosas
- Informações Vazadas: Operações policiais antecipadamente comunicadas aos alvos
- Proteção Ativa: Autoridades que efetivamente trabalham para facções
A Polêmica das Afirmações de Bukele
É importante analisar criticamente essas declarações e reconhecer que representam uma visão específica, não necessariamente toda a verdade.
Pontos Válidos:
- Corrupção Real: Casos documentados de policiais, políticos e funcionários públicos ligados ao crime organizado existem
- Falta de Prioridade: Muitos governos realmente não tratam segurança pública como prioridade máxima
- Questões Estruturais: Problemas sistêmicos que impedem ações efetivas contra facções
Pontos Questionáveis:
- Generalização: Afirmar que todos os problemas decorrem de corrupção simplifica uma realidade muito mais complexa
- Métodos Autoritários: O sucesso de Bukele veio com custos significativos em termos de direitos humanos e garantias constitucionais
- Contextos Diferentes: El Salvador e Brasil têm realidades socioeconômicas e institucionais bastante distintas
- Sustentabilidade: Ainda não está claro se os resultados de Bukele são sustentáveis a longo prazo
O Modelo Salvadorenho É Replicável no Brasil?
A pergunta que surge naturalmente é: as táticas de Bukele funcionariam no Brasil?
Desafios da Aplicação:
- Escala Populacional: El Salvador tem 6 milhões de habitantes; o Brasil tem 215 milhões
- Extensão Territorial: El Salvador tem 21 mil km²; o Brasil tem 8,5 milhões de km²
- Complexidade Institucional: O Brasil tem uma estrutura federativa com 27 estados autônomos
- Sistema Prisional: O Brasil já enfrenta superlotação extrema; prisões em massa agravariam drasticamente o problema
- Garantias Constitucionais: A Constituição brasileira impõe limites mais rígidos a medidas de exceção
Questões Éticas:
Além das dificuldades práticas, há questões morais importantes:
- Vale a pena sacrificar direitos fundamentais em nome da segurança?
- Como evitar que medidas emergenciais se tornem permanentes?
- Quem fiscaliza o poder concentrado nas mãos do Estado?
- Como garantir que inocentes não sejam prejudicados?
Experiências Brasileiras em Segurança Pública
O Brasil já testou diferentes abordagens ao longo das décadas, com resultados variados.
Exemplos de Políticas:
- Ocupação Militar: UPPs no Rio tentaram retomar territórios, com sucesso inicial, mas deterioração posterior
- Intervenção Federal: Medidas temporárias em estados como Rio de Janeiro não resolveram problemas estruturais
- Políticas Sociais: Programas de inclusão social tiveram impacto limitado na criminalidade violenta
- Endurecimento Penal: Leis mais duras não reduziram significativamente as taxas de crime
- Integração de Forças: Cooperação entre diferentes polícias mostrou resultados em operações específicas
Nenhuma dessas abordagens isoladas conseguiu replicar os resultados dramáticos de El Salvador.
O Papel da Corrupção no Sistema de Segurança
Embora a afirmação de Bukele seja controversa em sua generalidade, é inegável que corrupção e infiltração criminosa existem em diversos níveis.
Casos Documentados:
- Esquema de Venda de Proteção: Policiais cobrando de traficantes para não reprimir atividades
- Desvio de Armas: Equipamentos policiais que terminam nas mãos de criminosos
- Operações Fraudadas: Informações vazadas que permitem fuga de alvos antes de operações
- Compra de Decisões: Juízes e promotores influenciados por dinheiro do crime
Esses casos, embora não representem a maioria dos profissionais de segurança, têm impacto desproporcional na eficácia do combate ao crime.
Comparações Internacionais: O Que Funciona?
Olhando para além da América Latina, podemos identificar estratégias bem-sucedidas em diferentes contextos.
Colômbia:
Reduziu drasticamente a violência através de:
- Desmantelamento sistemático de cartéis
- Investimento massivo em inteligência
- Cooperação internacional (especialmente com EUA)
- Políticas sociais em regiões vulneráveis
Singapura:
Mantém baixíssimos índices de criminalidade com:
- Punições severas (controversas do ponto de vista de direitos humanos)
- Investimento pesado em tecnologia de vigilância
- Controle social rigoroso
- Meritocracia e combate feroz à corrupção
Países Nórdicos:
Combinam segurança com direitos através de:
- Foco em reabilitação, não apenas punição
- Investimento em educação e oportunidades
- Redução de desigualdade social
- Polícia comunitária e proximidade com população
O Que o Brasil Pode Aprender?
Independentemente de concordar ou não completamente com Bukele, suas críticas oferecem pontos para reflexão.
Lições Possíveis:
- Priorização Real: Segurança pública precisa ser tratada como prioridade máxima, com recursos adequados
- Vontade Política: É necessário enfrentar interesses estabelecidos, mesmo quando politicamente custoso
- Combate à Corrupção: Sem eliminar infiltração criminosa no Estado, outros esforços têm eficácia limitada
- Coordenação Institucional: Polícias, Judiciário e governos precisam trabalhar de forma integrada
- Persistência: Resultados duradouros exigem compromisso de longo prazo, não apenas operações pontuais
Conclusão: Um Debate Necessário Sobre Segurança Pública
As declarações de Nayib Bukele, embora polêmicas, tocam em questões dolorosas que o Brasil não pode mais ignorar.
A pergunta central permanece válida: por que uma nação com recursos, instituições e capacidade técnica como o Brasil permite que organizações criminosas controlem territórios e ditem regras a milhões de cidadãos?
Seja qual for a resposta – falta de vontade política, corrupção sistêmica, questões estruturais complexas ou uma combinação de todos esses fatores – uma coisa é clara: a situação atual é inaceitável.
Milhões de brasileiros vivem sob o jugo de facções criminosas, privados de direitos básicos, expostos à violência cotidiana e impedidos de desenvolver plenamente seu potencial. Crianças crescem ouvindo tiroteios, escolas fecham por causa de confrontos, e trabalhadores honestos vivem entre o medo do crime e da própria polícia.
O modelo de Bukele pode não ser a resposta completa para o Brasil, mas sua experiência demonstra que transformações dramáticas são possíveis quando há determinação genuína para enfrentar o problema.
O debate sobre como alcançar segurança pública efetiva, respeitando direitos fundamentais e construindo soluções sustentáveis, precisa ocupar o centro da discussão nacional. Porque aceitar a situação atual como inevitável é, de fato, uma escolha – e uma escolha que condena milhões de brasileiros a viver em um estado de guerra permanente.
Interessado em entender melhor os desafios da segurança pública no Brasil e as possíveis soluções? Continue acompanhando nossos artigos sobre política, segurança e os debates que moldam o futuro do país!
Fontes:
Fontes jornalísticas regionais sobre declarações políticas de autoridades salvadorenhas sobre corrupção no Brasil.
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